
Desde a promessa do libertador, feita a Adão e Eva, até o nascimento de Jesus, passaram 40 séculos. Você já parou para imaginar a expectativa que esse casal mantinha no nascimento daquele que iria reverter toda miséria causada pela transgressão de comer do fruto proibido?
Sabe aquele filho de 04 aninhos, quando o pai promete que em tal horário vai levá-lo na sorveteria, e a cada 10 minutos ele fica perguntando se o horário já chegou? Pois bem, esse era o caso de Adão e Eva, porém com um detalhe: o Pai não havia falado quando o salvador nasceria. Diante disso, não é estranho pensar que, quando Eva teve seu primeiro bebê, pensou ser este o Messias prometido, mas o que ela não imaginava era que esse evento só ocorreria 4 mil anos depois.
Mas como tudo na vida passa, os anos se passaram e o dia em que o mundo vai receber o tão aguardado Messias, chega! Na mente da maioria dos judeus, o dia do nascimento de Jesus seria algo extraordinário, com muito luxo, pompa e extravagância, algo indispensável nas festas reais daqueles tempos. Mas a realidade dos fatos se mostraria completamente diferente daquilo que imaginavam.
Infelizmente, o maior interesse dessas pessoas não era serem libertadas da escravidão do pecado, e sim do julgo romano, isto porque, desde o ano 63 a.c eles foram anexados por Roma e, submetidos ao controle desse império, algo que os judeus odiavam, por esse motivo, o nascimento de Jesus quebra todas essas ilusórias expectativas, fruto de um coração orgulhoso e egoísta, e esse dia, tão almejado por eles, passaria despercebido por praticamente toda nação!
Sabe, às vezes criamos na mente uma imagem completamente distorcida de Deus, e isso se dá por inúmeros motivos, relacionados à educação que recebemos, cultura, tradições, crendices, medo, preconceito e até mesmo uma interpretação equivocada das escrituras. Diante disso, o maior desafio para um estudante da Bíblia é esvaziar-se de si, para aprender do Senhor, e essa revelação pode vir totalmente diferente daquilo que imaginamos.
Concebido em uma adolescente noiva
Esse título pode soar bem estranho aos nossos ouvidos, porém, na cultura judaica, uma pessoa se tornava maior de idade a partir do momento em que pudesse gerar a vida. Nos meninos, isso ocorria por volta dos 13 anos; já nas meninas, esse fato era marcado pela primeira menstruação, que geralmente vinha por volta dos 12 anos de idade. Naquela época, era comum que meninas dessa idade fossem prometidas em casamento. Esse processo começava com o noivado, que consistia em um compromisso formal, e envolvia um acordo feito entre os pais da noiva e o pretendente, que se comprometia em pagar uma quantia em dinheiro ou bens, conhecido como dote, aos pais da moça.
O dote tinha dois objetivos: compensar os pais por “perderem” sua filha e também demonstrar que o rapaz tinha condições financeiras para sustentar uma família. Essa cerimônia era tão importante, que só poderia ser desfeita por meio de um divórcio, ou seja, o noivado era praticamente o casamento, mas eles não podiam ter relações sexuais. O rapaz tinha um ano para levantar a grana e preparar a casa para receber sua esposa, depois desse prazo, ele pagava o dote e levava a mulher para sua nova residência. Diante disso, é provável que Maria tivesse entre 13 a 16 anos quando ficou noiva, e foi nesse intervalo de um ano, quando José estava ralando para levantar o dote, que ela apareceu grávida de repente.
Por que José não pediu divórcio?
Diante de uma possível infidelidade da parte de Maria, José teria todo o direito do mundo para cancelar o noivado pedindo o divorcio. Na realidade, quando lemos o evangelho de Mateus no capítulo 1:19, percebemos que José iria desfazer do casamento secretamente para não expor Maria a vergonha e outras consequências mais graves, porém, um anjo apareceu a ele em sonho e disse:
“…José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, pois o que nela se gerou é do Espírito Santo.” Mateus 1:20.
Depois desta revelação, José não hesitou em receber Maria como sua esposa, pagou o dote e foram para nova casa; contudo, não tiveram lua de mel, pois o texto bíblico no evangelho de Mateus 1:25 diz que José não a conheceu, enquanto ela não deu a luz.
A vida de José e Maria em Nazaré
Nazaré foi o lugar onde esse jovem casal iniciou a vida a dois. Essa pequena cidade, tinha uma população por volta de 300 pessoas, e se fosse em nossos dias, um local com essas características, estaria longe de ser considerado uma cidade, e o máximo que chamaríamos seria de um pequeno vilarejo. A vida que José e Maria levavam neste lugar, era simples e isenta de qualquer luxo, onde, através da carpintaria, José tirava o sustento da sua família. Este ramo de trabalho exigia responsabilidade, disciplina, dedicação e capricho na fabricação e montagem das peças, e é nesse ambiente, marcado pela operosidade, que será criado o salvador do mundo, realidade esta, bem diferente daquilo que pensavam os judeus, que esperavam um libertador que desfrutasse uma vida confortável e próspera, digna de qualquer rei terreno.
O recenseamento

Pois bem, a barriga de Maria foi crescendo, crescendo, crescendo, e quando estava bem perto do parto, o imperador romano deu ordem para ser feito um censo, uma espécie de contagem da população que era feito de tempo em tempo, exigindo que eles fizessem uma cansativa viagem para cumprir esta ordem.
Assim que César Augusto expediu o decreto, o casal partiu de Nazaré da Galileia para Belém da Judeia, isto porque, neste censo, cada família deveria estar em sua terra natal, sendo José e Maria naturais de Belém, cidade onde foi criado o rei Davi, cuja a linhagem genealógica eles pertenciam. Esse recenseamento, promulgado pelo imperador, fez com que se cumprisse a profecia de Miquéias 5:2 onde diz o seguinte:
“E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”.
Uma viagem desafiadora

A distância de Nazaré até Belém era de aproximadamente 150 km, e o texto bíblico apresenta um detalhe interessante:
“Subiu também José, da Galileia, da cidade de Nazaré, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e da família de Davi.” Lucas 2:4.
Perceba que o texto começa dizendo que eles subiram. Deixa eu te perguntar: O que é mais cansativo, subir ou descer uma montanha? Com certeza subir! Agora imagina percorrer 150 km de subida, em cima de um camelo ou jumento, com a barriga grande, possivelmente com náuseas, tendo que descer do animal o tempo todo para fazer xixi, percorrendo montanhas! Ou seja, diante de todas essas dificuldades, é provável que eles percorriam no máximo 30 km por dia, pois José não forçaria a viagem com Maria nessas condições, resultando provavelmente em 05 longos dias de uma viagem extremamente exaustiva e desafiadora. Eu fico imaginando o alívio quando eles avistaram Belém, só mais um pouquinho e poderão procurar um lugar para descansar.
Onde vamos ficar?
Como se não bastasse os sofrimentos da viagem, assim que chegaram ao destino, uma surpresa! Depois de percorrerem a curta rua da cidade em busca de hospedagem, nada encontraram. O texto bíblico diz: “…Porque não havia lugar para eles na hospedaria.” Lucas 2:7 (última parte).. Devemos lembrar que, devido ao censo exigir que os moradores estivessem em sua terra de origem, Belém devia estar apinhada de pessoas que moravam em outras regiões, mas que agora estavam ali para cumprir a ordem imperial. Agora fica claro o motivo deles não encontrarem acomodação nas hospedarias, pois estas deveriam estar repletas de indivíduos.
Por outro lado, a palavra hospedaria pode significar também quarto de hóspede, que toda família construía para receber seus parentes e amigos. De acordo com o padrão de residência daqueles dias, a casa era formada pelo compartimento de baixo e de cima. Em cima ficava o dormitório e dependendo do tamanho da família, se não fosse muito grande, o quarto de hóspede ficava nesse compartimento, caso contrário, era construído na parte de baixo, ao lado do ambiente que abrigava a cozinha e a sala de estar. Em frente da porta de entrada da casa, eles construíam uma espécie de varanda, para abrigar os animais que eram usados como importante mão de obra na execução do trabalho diário. Sendo assim, quando o texto bíblico fala que eles não encontraram lugar na hospedaria, pode estar se referindo ao quarto de hóspedes dos seus próprios parentes, que também deviam estar ocupados.
A gestante não tinha preferência?
É difícil aceitar que uma gestante perto de conceber não tenha despertado simpatia dos seus familiares. Por mais que a casa estivesse cheia, seria totalmente compreensível, ou até mesmo um dever, fazer um ajuste com os hóspedes a fim de receber aquela que estava grávida e que havia acabado de chegar de uma viagem fatigante. Mas, infelizmente, eles não faziam ideia de quem era aquele bebê que em algumas horas nasceria. Contudo, independente disso, nada justifica o tratamento frio e insensível que receberam! Um lugar digno de repousar e dar a luz, são necessidades básicas de qualquer pessoa. Mas uma pergunta fica no ar: Por que eles foram tratados com tanta indiferença por seus próprios parentes?
Talvez a resposta para esta pergunta esteja nas circunstâncias em que a gravidez de Maria sucedeu. Certamente, a história da concepção pelo Espírito Santo não convenceu certas pessoas, que com maldade, afirmavam que aquela gravidez era fruto de uma infidelidade de Maria durante o período de noivado.
Em uma cidade tão pequena como Nazaré, a fofoca chegava rapidinho nos ouvidos dos outros, e, de alguma forma, a notícia da gravidez antes de ter se juntado com José vazou, e de boca em boca, foi se espalhando até chegar nos seus parentes em Belém. De fato, acreditar que uma pessoa engravidou sem ter relações sexuais é bizarro. Maria deve ter sofrido com olhares de menosprezo e José com comentários constrangedores!
Um lugar humilhante

É provável que algum de seus familiares, por mera obrigação, tenha recolhido o casal para dentro de casa, ou melhor, para as dependências da casa. No evangelho de Lucas 2:7 diz que assim que Jesus nasceu, Maria o envolveu em faixas e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria, ou seja, no quarto de hóspede da casa. Lembra que abordamos anteriormente que em frente da porta de entrada da casa, havia uma varanda onde ficavam os animais que auxiliavam no trabalho diário?! Pois bem, é neste lugar que, certamente, José e Maria, dividindo espaço com os animais, encontraram repouso. Pior do que não ser recepcionado, é ser recepcionado com má vontade. O anfitrião poderia ao menos ter colocado o casal para dentro de casa e preparado um lugar mais decente, mas ao invés disso, fez questão de deixar bem claro que eles não eram bem-vindos ali, ao oferecer o lugar dos animais como sendo o único disponível.
E foi nesse ambiente rude, simples, reservado aos animais, que nasceu o redentor do mundo. Quando o cronograma do céu apontou o dia e a hora do nascimento de Jesus, ele nasceu em Belém. Esse momento era pra ser o mais celebrado entre os homens, pois a salvação estava ali em pessoa, junto da humanidade, em forma humana, mas olha que irônico, Jesus veio para salvar o ser humano, entretanto, os primeiros a se curvarem diante dele, foram os animais daquela manjedoura, que reconheceram que aquele bebê envolto em faixas, dentro do coxo onde eles se alimentavam, era o criador e redentor do mundo, fato esse, que passou despercebido por quase toda nação judaica, inclusive pelos doutores da lei.
Anunciado aos pastores de ovelhas
O espetáculo ocorrido em Belém não foi apenas assistido pelos pais e os animais daquele estábulo, mas também por toda hoste angelical que acompanhava a cena com admiração e alegria. Enquanto as pessoas estão dormindo, o céu está em festa, e os anjos estão louvando e na expectativa de cumprir o papel de mensageiros. As novas do nascimento de Jesus precisavam ser anunciadas! Mas a quem deviam falar?
A nação judaica havia recebido todo conhecimento necessário através dos escritos do antigo testamento, para discernir o tempo do nascimento do Messias, mas, através da negligência, ignoraram esse privilégio. Felizmente em todo o tempo, Deus tem os seus filhos fieis, que independente das circunstâncias, não abrem mão do estudo das escrituras e da comunhão com Deus, e a esses, Deus honra, assim como fez a Daniel na corte de Babilônia, e tantos outros registrados na bíblia.
Na história do nascimento de Jesus, não foi diferente. Ali mesmo em Belém, havia alguns pastores de ovelhas que estavam vigiando os seus rebanhos durante a noite. Esses homens eram pessoas fieis, almejavam e estudavam a respeito da vinda do Messias, e certamente aproveitavam as horas caladas da noite para conversarem sobre esse tema. Entretanto, o que não imaginavam era que essa noite ficaria marcada na história. De súbito, a noite é tomada por uma luz que nunca tinham visto! Ao olharem para cima, avistam um anjo, e neste momento eles temeram por suas vidas. O texto bíblico continua, dizendo:
“O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura.” Lucas 2:10-12.
Que privilégio esses pastores de ovelhas tiveram! Foram avisados do nascimento de Jesus por um anjo, que deu as orientações exatas da localização e do estado em que vão encontrá-lo (envolto em faixas e dentro de uma manjedoura), colocando isso como sinal de quem seria o Messias para, talvez, prepará-los para ver o redentor em tamanha simplicidade e descaso. Antes do anjo desaparecer, um outro espetáculo, um batalhão de anjos se une a este e cantam:
“Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem.” Lucas 2:14.
Assim, da mesma forma que apareceram, se foram repentinamente, deixando na memória daqueles homens, uma cena que jamais será apagada. Provavelmente ainda atordoados com tudo aquilo que acabaram de ver e ouvir, eles correram apressadamente para ver o bebê e o encontraram exatamente como o anjo havia dito. Esses pastores retornaram para casa com uma alegria que jamais haviam experimentado, pois o Salvador, que antes era apenas uma promessa, agora era uma realidade, vivendo entre eles.
Para refletirmos
Uma frase muito usada por Santo Agostinho, de Hipona, diz o seguinte: “O que me aproveita que Cristo tenha nascido uma vez em Belém, se não nascer de novo pela fé em meu coração?”
Deixa eu te perguntar: Jesus de fato nasceu em seu coração? Ele é real pra você, ou apenas um personagem bíblico? Você tem dedicado tempo para se familiarizar com ele por meio do estudo e da oração?
Sabe, às vezes a correria do dia a dia nos afasta da comunhão com Deus, e ficamos tão alheios que, esquecemos que o propósito do nascimento, morte e ressurreição de Jesus é para nos libertar deste mundo de sofrimento. Não podemos nos conformar com as ilusórias sensações de segurança e estabilidade que o mundo oferece. Diante de tudo que Deus preparou para nós, essas coisas não passam de migalhas, mas que, infelizmente, têm roubado o tempo do nosso relacionamento com Jesus!
Para não sermos vítimas desta condição, quero te desafiar a criar o hábito de estudar a bíblia, começando pela vida de Jesus. Coloque como meta estudar os quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João). Lembre-se de estudar e não apenas ler. Seria interessante ter um caderno para anotar os pontos importantes e as dúvidas que surgirem, a fim de pesquisar depois. E nada dessa conversa que não tem tempo, pois o tempo somos nós que fazemos. Você pode acordar mais cedo, enxugar o tempo de uma outra atividade, não sei, mas se você se propuser, tenho certeza que Deus o ajudará nesta resolução.
Caso siga as dicas que deixei, se prepare para uma transformação, pois todo aquele que estuda a vida de Jesus, é impossível não mudar de vida.
Ah, deixa eu te dar uma dica de leitura de um livro espetacular, chamado “A enciclopédia histórica da vida de Jesus”, do autor Rodrigo Silva, que é Doutor em Teologia e Arqueologia. Esse livro é fantástico, um ótimo investimento na vida espiritual. Vou disponibilizar o link aqui, pra você dar uma conferida.

Estaremos juntos nessa jornada! Fiquem com Deus, e até a próxima.